Tiros em casa, falta de transporte, muito medo: relatos dos cidadãos afetados pela operação no Rio
Moradores relatam medo e caos em dia de operação no Alemão e Penha Moradores passaram por momentos de tensão e dificuldades nesta terça-feira (28), dia da ...
Moradores relatam medo e caos em dia de operação no Alemão e Penha Moradores passaram por momentos de tensão e dificuldades nesta terça-feira (28), dia da megaoperação na Zona Norte do Rio, que terminou com mais de 80 presos e registrou mais de 130 mortes nos Complexos do Alemão e da Penha. Residências nas comunidades ou até em bairros vizinhos foram atingidas por disparos. Além disso, o deslocamento dos moradores foi muito afetado. 🔴 AO VIVO: Acompanhe as últimas informações do Rio de Janeiro ➡️ A cidade amanheceu nesta quarta (29) sem vias obstruídas, após mais de 12 horas de bloqueios. O Comando Vermelho (CV) orquestrou uma série de retaliações à operação, que é a mais letal da história do RJ. ➡️ O total de mortos na megaoperação passou de 120 nesta quarta: O governo havia informado em balanço na terça que havia 64 mortos, sendo que 4 eram policiais civis e militares. Mas, na manhã desta quarta, o governador Cláudio Castro (PL-RJ) só confirmou oficialmente 58 mortos, sendo que eram 54 criminosos. Ele não esclareceu por que o número do balanço de ontem foi alterado. Em coletiva, a cúpula da segurança do RJ atualizou os números: 4 policiais e 117 suspeitos mortos. Moradores afirmam ter encontrado 74 mortos na mata, que foram levados uma praça na Penha. Secretário da Polícia Civil fala em 63 corpos achados na mata. Haverá uma perícia para ver se há relação entre essas mortes e a operação. No Complexo do Alemão, um tiro disparado durante o confronto entre criminosos e policiais atravessou o banheiro onde estavam uma criança e um tio: “Atingiu a janela do banheiro e a geladeira”, contou a mãe, ainda em choque. "Só assim que eles fazem. A cachorra da moradora tá morta, com um tiro", relatou uma outra moradora em um vídeo. Nas imagens, ela mostra também o muro de uma casa com buracos de disparos. Dentro de outra casa, mais uma moradora resumiu o que passou na região: “Está muito perigoso. O clima aqui tá muito tenso. Muito tiro desde de manhã. Eu não consegui sair pra trabalhar. Estou presa dentro de casa”, disse uma moradora. Nos transportes públicos também houve quem não conseguisse esconder a frustração: “Eu sinto uma desonestidade com o morador, sabe? Já é difícil acordar pra ir trabalhar, e ainda ter essa dificuldade pra voltar pra casa... É difícil”, desabafou uma passageira, esperando por um ônibus que não passava. Quem passava na Avenida Itaoca, em Bonsucesso, via pouca gente na rua em comparação ao movimento normal. O tiroteio intenso e a sensação de insegurança motivaram muitos comerciantes a liberar seus funcionários: “Liberaram a gente por causa do tiroteio, para a gente estar indo para casa", disse Mateus Monteiro de Souza, funcionário de uma empresa de extintores. Quem tentava procurar ônibus também tinha dificuldades para voltar para casa: "Estou esperando há meia hora. Normalmente passa de 10 em 10 minutos", disse a enfermeira Silene Minas. "Medo, sentimento de medo, preocupação. Muito medo", relataram outros passageiros que esperavam o transporte público na mesma via. 📱Baixe o app do g1 para ver notícias do RJ em tempo real e de graça Entenda o que é GLO e por que o termo voltou a ser discutido após operação no RJ Projeto social afetado O projeto social Arte Transformadora, que trabalha com 250 crianças e jovens do Complexo da Penha, foi afetado pelo tiroteio que ocorreu durante a megaoperação: “Nós temos uma TV destruída, uma janela quebrada, uma cortina totalmente rasgada”, disse Albert Austin, presidente do projeto Base Transformadora, sobre os danos à sede da ONG. Quilômetros de caminhada Trabalhador diz que saiu mais cedo do trabalho e vai precisar andar 5 km para chegar em casa Problemas nos transportes públicos da cidade após retaliações de bandidos contra a megaoperação fizeram com que milhares de cariocas tivessem que voltar a pé para casa nesta terça-feira. A situação era grave por volta das 17h na Zona Oeste, em vias como a Avenida Engenheiro Souza Filho ou na região da Barra Olímpica. O RJ2 ouviu pessoas que tiveram que andar quilômetros a pé. "Caos total, são centenas de pessoas saindo do seu trabalho e não tem transporte público. Vou andar uns 5 km para chegar em casa, tentei solicitar um [transporte por] aplicativo aqui, mas tá muito caro, R$ 100. Vou andando, é o que me resta", disse Antônio. Para piorar, o carioca enfrentou filas em modais como trens, barcas e metrô. Transportes por aplicativo ficaram escassos e, com a demanda maior, os preços ficaram muito acima da média – uma corrida que costuma custar R$ 15, por exemplo, chegou a R$ 100. O horário de pico do retorno para casa do carioca, segundo o Centro de Operações da Prefeitura, foi antecipado em 4 horas. A Central do Brasil ficou lotada de trabalhadores buscando o retorno para casa, assim como pontos de ônibus em vários pontos da cidade. O Rio Ônibus informou que, pela primeira vez na história, recomendou que os ônibus que circulam por áreas de risco voltassem às garagens. Ao longo do dia, 71 ônibus foram tomados por bandidos para serem usados como barricadas e 204 linhas foram impactadas. Apesar do grande movimento e filas em locais como a Praça 15 e em várias estações de metrô, os meios de transporte funcionavam normalmente por volta das 15h50. Metrô, barcas e trens estavam com o fluxo normal de viagens - a exceção era o BRT, que tinha intervalos irregulares. A SuperVia informou que reforçou o horário do pico vespertino para atender o alto volume de passageiros nas estações. O MetrôRio também anunciou reforço na grade e diminuição do intervalo normal. Central do Brasil fica lotada de trabalhadores tentando voltar pra casa no dia da operação mais letal do Rio O Centro de Operações e Resiliência da Prefeitura do Rio informou mais cedo que o município do Rio de Janeiro entrou no Estágio 2 na tarde desta terça-feira (28), devido a ocorrências policiais que interditam, de forma intermitente, diversas ruas das zonas Norte, Oeste e Sudoeste da cidade. Posts em redes sociais indicaram que o Estágio Operacional 4 - o segundo mais grave - chegou a ser declarado, mas a informação é falsa. Várias vias, porém, realmente foram afetadas em algum momento por bloqueios impostos por bandidos ao longo da tarde, entre elas Avenida Brasil, Linha Amarela e Linha Vermelha. Cariocas voltam a pé para casa Reprodução Central do Brasil e barcas têm movimento intenso no meio da tarde Filas nas barcas Reprodução Criminosos interditam vias em vários pontos do Rio em retaliação a operação